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sábado, 21 de maio de 2016
domingo, 30 de agosto de 2015
O pioneirismo da ferrovia registra passagens onde desfilam e personagens anônimos, alguns destes, verdadeiros heróis.
Pessoas humildes, que não obstante sua simplicidade, deixaram exemplos sublimes de amor e dedicação às suas lides profissionais, transformando-as em verdadeiro sacerdócio.
O grau de envolvimento, chegava a ser tão forte que muitas das vezes extrapolava seu aspecto puramente profissional e o ferroviário defendia a instituição com ardor, orgulhando-se dela o e dedicando-se de corpo e alma a sua profissão, que era a razão maior de sua existência.
Não raro, o rude trabalho o expunha a riscos iminentes e exaustivos sacrifícios, mas isso não lhe causava desalento. Quando o pesado comboio passava com a batida cadenciada das rodas nas emendas dos trilhos e o som todo característico do vapor sendo expulso pelas escuras chaminés, o dedicado ferroviário sorria envaidecido, sentindo um calafrio a percorrer seu corpo. Ele fazia parte daquele espetáculo, e se sentia orgulhoso disso !
Dentre a extensa lista de funções existentes na ferrovia, é consenso que a mais perigosa dela era a de Guarda-Freios.
A locomotiva a vapor, antes da extraodinária invenção de George Westinghouse - que dotou as composições ferroviárias do sistema de frenagem pneumático até hoje utilizados - funcionava com um limitado sistema de freio a vácuo, que deixava muito a desejar, sobretudo em regiões de declive acentuado.
Objetivando reforçar a frenagem do trem na descida da serra, o Guarda-Freios subia no teto dos vagões e utilizando um volante ali existente, freaando manualmente cada um deles.
Com o trem em movimento, o Guarda-Freios era obrigado a saltar de um vagão para o outro para apertar os volantes, tarefa que envolvia um altíssimo risco, e exigia uma habilidade sem precedentes deste corajoso ferroviário.
Além do risco de desequilibrar-se com o balanço do trem, ou de escorregar no teto molhado pela chuva, ou mesmo de tropeçar nos antiquados passadiços de madeira existentes, existia uma ameaça maior, os túneis.
Devido a reduzida altura das locomotivas a vapor, os túneis eram também muito baixos. O Guarda-Freios, concentrado na sua tarefa, muitas das vezes descuidava-se deles e era colhido de surpresa.
Acidentes aconteciam com frequência e quando não causavam a morte, sempre ocasionavam sérios ferimentos e sequelas às suas vítimas.
O maquinista comunicava-se com o Guarda-Freios utilizando-se do apito. Assim, através de um código pré-estabelecido, os freios eram apertados ou afrouxados ao longo do trecho em que era necessária a utilização do freio manual. Ao longo da viagem o Guarda-Freios tinha de subir e descer dos vagões, apertando e desapertando os volantes manuais quantas vezes fossem necessárias.
E neste trabalho árduo, exaustivo e extremamente perigoso, colocavam sua própria vida em risco para garantir que o trem chegasse a seu destino com segurança.
Heróis anônimos da nossa história ferroviária, avançavam por onde quer que houvessem trilhos, enfrentando ora o frio, a umidade e os ventos gelados da serra, ora o calor extenuante que encharcava a camisa e tornava o ar pesado, quase irrespirável.
A estes valorosos profissionais, que com sua garra e coragem, muitas das vezes tombaram no cumprimento do dever, registramos nossa singela homenagem.
As estradas de ferro de todo o mundo devem a esses heróis anônimos, o tributo de serem o são hoje.
Pessoas humildes, que não obstante sua simplicidade, deixaram exemplos sublimes de amor e dedicação às suas lides profissionais, transformando-as em verdadeiro sacerdócio.
O grau de envolvimento, chegava a ser tão forte que muitas das vezes extrapolava seu aspecto puramente profissional e o ferroviário defendia a instituição com ardor, orgulhando-se dela o e dedicando-se de corpo e alma a sua profissão, que era a razão maior de sua existência.
Não raro, o rude trabalho o expunha a riscos iminentes e exaustivos sacrifícios, mas isso não lhe causava desalento. Quando o pesado comboio passava com a batida cadenciada das rodas nas emendas dos trilhos e o som todo característico do vapor sendo expulso pelas escuras chaminés, o dedicado ferroviário sorria envaidecido, sentindo um calafrio a percorrer seu corpo. Ele fazia parte daquele espetáculo, e se sentia orgulhoso disso !
Dentre a extensa lista de funções existentes na ferrovia, é consenso que a mais perigosa dela era a de Guarda-Freios.
A locomotiva a vapor, antes da extraodinária invenção de George Westinghouse - que dotou as composições ferroviárias do sistema de frenagem pneumático até hoje utilizados - funcionava com um limitado sistema de freio a vácuo, que deixava muito a desejar, sobretudo em regiões de declive acentuado.
Objetivando reforçar a frenagem do trem na descida da serra, o Guarda-Freios subia no teto dos vagões e utilizando um volante ali existente, freaando manualmente cada um deles.
Com o trem em movimento, o Guarda-Freios era obrigado a saltar de um vagão para o outro para apertar os volantes, tarefa que envolvia um altíssimo risco, e exigia uma habilidade sem precedentes deste corajoso ferroviário.
Além do risco de desequilibrar-se com o balanço do trem, ou de escorregar no teto molhado pela chuva, ou mesmo de tropeçar nos antiquados passadiços de madeira existentes, existia uma ameaça maior, os túneis.
Devido a reduzida altura das locomotivas a vapor, os túneis eram também muito baixos. O Guarda-Freios, concentrado na sua tarefa, muitas das vezes descuidava-se deles e era colhido de surpresa.
Acidentes aconteciam com frequência e quando não causavam a morte, sempre ocasionavam sérios ferimentos e sequelas às suas vítimas.
O maquinista comunicava-se com o Guarda-Freios utilizando-se do apito. Assim, através de um código pré-estabelecido, os freios eram apertados ou afrouxados ao longo do trecho em que era necessária a utilização do freio manual. Ao longo da viagem o Guarda-Freios tinha de subir e descer dos vagões, apertando e desapertando os volantes manuais quantas vezes fossem necessárias.
E neste trabalho árduo, exaustivo e extremamente perigoso, colocavam sua própria vida em risco para garantir que o trem chegasse a seu destino com segurança.
Heróis anônimos da nossa história ferroviária, avançavam por onde quer que houvessem trilhos, enfrentando ora o frio, a umidade e os ventos gelados da serra, ora o calor extenuante que encharcava a camisa e tornava o ar pesado, quase irrespirável.
A estes valorosos profissionais, que com sua garra e coragem, muitas das vezes tombaram no cumprimento do dever, registramos nossa singela homenagem.
As estradas de ferro de todo o mundo devem a esses heróis anônimos, o tributo de serem o são hoje.
domingo, 19 de julho de 2015
“ Bem que eu me lembro, a gente sentava ali ...”
Que o poeta me desculpe o plágio, mas era bem assim...
À tardinha, quando o sol já se punha, sentávamos à sombra daquela amoreira, bem no portão de sua casa, num tosco banco de madeira.
Sua tez morena e seus olhos cor de mel me despertavam uma louca paixão. Os lábios carnudos e a grossa sobrancelha lhe conferiam um semblante agressivo, que contrastava com seu jeito meigo e tímido.
Ela não sabia de minha paixão ( ou se sabia fingia ignorar ), e me olhava no fundo dos olhos, mordendo os lábios, com trejeitos provocadores.
Gostávamos de passear na linha, sobre os trilhos, um de cada lado, apostando quem conseguia ir mais longe sem cair. Depois sentávamos na plataforma da estação de Itatiaia, olhando o corte em direção a Resende, tentando adivinhar qual seria a próxima locomotiva a apontar; seria uma Biriba ( ALCO FA-1 ), ou uma Canadense ( ALCO RS-3 ), ou mesmo uma CLT ( GM EMD SD-18 ) ???
Eu sempre ganhava a aposta, pois ao contrário dela, conhecia o ronco dos motores de cada uma das locomotivas, quando estas ainda estavam longe, o que a deixava muito impressionada.
Às vezes, nervosamente, segurava suas mãos ( sempre com alguma desculpa ), e meu corpo tremia todo quando aqueles dedos macios se entrelaçavam com os meus.
Ou quando íamos ver os pequenos peixes no córrego sob o leito da ferrovia, uma descida íngreme era sempre o motivo para que eu a segurasse pela cintura, na desculpa de não deixá-la cair.
Pensava nela dia e noite, sonhava com ela até acordado, e meu ciúme era doentio, principalmente quando nadávamos nas águas cristalinas do Rio Bonito. Vê-la com a roupa colada ao corpo, os cabelos molhados e seu olhar penetrante a me fitar, era um verdadeiro castigo.
E quando voltávamos para casa, ela correndo na frente e eu tentando alcançá-la por entre as trilhas perfumadas daquele verde campo colorido de vermelho do capim gordura florido.
Eu a alcançava e propositadamente a abraçava apertando seu corpo molhado contra o meu, enquanto meu coração palpitava, ébrio de paixão ...
Mas as férias chegavam ao fim....
A tristeza do dia da partida fazia com que eu acordasse triste, desanimado, com vontade de chorar.
O Expresso passava na hora do almoço, porém, logo cedo eu já estava de pé, e corria até sua casa, pois queria vê-la, queria estar com ela naqueles poucos momentos que me restavam.
E eis que lá estava ela: cabelos soltos, saia colorida, sorriso nos lábios, e me chamava para sentar no nosso banco.
Conversávamos até chegar o horário de ir para a estação.
Ela me acompanhava e juntos, de mãos dadas, caminhávamos silenciosos. Meus olhos marejados insistiam em denunciar minha tristeza e eu procurava disfarçar, constrangido com a situação.
E então olhávamos para o corte do lado de Resende, até que a Canadense apontava com seu “papo amarelo” e sua buzina grave, freando na estação, com aquele característico cheiro de óleo diesel misturado com ferro aquecido.
Entrar naquele trem e deixá-la na estação era um momento de extrema tristeza, e quando o trem partia deixando para trás minha querida Itatiaia, grossas lágrimas banhavam meu rosto.
Mas tinha um consolo; nas próximas férias estaria de volta e me encontraria novamente com Sílvia, com seus olhos cor de mel, seus lábios provocantes, suas mãos macias, sua voz meiga e seu jeito tímido, a preencher minha mente de doces fantasias.
Que o poeta me desculpe o plágio, mas era bem assim...
À tardinha, quando o sol já se punha, sentávamos à sombra daquela amoreira, bem no portão de sua casa, num tosco banco de madeira.
Sua tez morena e seus olhos cor de mel me despertavam uma louca paixão. Os lábios carnudos e a grossa sobrancelha lhe conferiam um semblante agressivo, que contrastava com seu jeito meigo e tímido.
Ela não sabia de minha paixão ( ou se sabia fingia ignorar ), e me olhava no fundo dos olhos, mordendo os lábios, com trejeitos provocadores.
Gostávamos de passear na linha, sobre os trilhos, um de cada lado, apostando quem conseguia ir mais longe sem cair. Depois sentávamos na plataforma da estação de Itatiaia, olhando o corte em direção a Resende, tentando adivinhar qual seria a próxima locomotiva a apontar; seria uma Biriba ( ALCO FA-1 ), ou uma Canadense ( ALCO RS-3 ), ou mesmo uma CLT ( GM EMD SD-18 ) ???
Eu sempre ganhava a aposta, pois ao contrário dela, conhecia o ronco dos motores de cada uma das locomotivas, quando estas ainda estavam longe, o que a deixava muito impressionada.
Às vezes, nervosamente, segurava suas mãos ( sempre com alguma desculpa ), e meu corpo tremia todo quando aqueles dedos macios se entrelaçavam com os meus.
Ou quando íamos ver os pequenos peixes no córrego sob o leito da ferrovia, uma descida íngreme era sempre o motivo para que eu a segurasse pela cintura, na desculpa de não deixá-la cair.
Pensava nela dia e noite, sonhava com ela até acordado, e meu ciúme era doentio, principalmente quando nadávamos nas águas cristalinas do Rio Bonito. Vê-la com a roupa colada ao corpo, os cabelos molhados e seu olhar penetrante a me fitar, era um verdadeiro castigo.
E quando voltávamos para casa, ela correndo na frente e eu tentando alcançá-la por entre as trilhas perfumadas daquele verde campo colorido de vermelho do capim gordura florido.
Eu a alcançava e propositadamente a abraçava apertando seu corpo molhado contra o meu, enquanto meu coração palpitava, ébrio de paixão ...
Mas as férias chegavam ao fim....
A tristeza do dia da partida fazia com que eu acordasse triste, desanimado, com vontade de chorar.
O Expresso passava na hora do almoço, porém, logo cedo eu já estava de pé, e corria até sua casa, pois queria vê-la, queria estar com ela naqueles poucos momentos que me restavam.
E eis que lá estava ela: cabelos soltos, saia colorida, sorriso nos lábios, e me chamava para sentar no nosso banco.
Conversávamos até chegar o horário de ir para a estação.
Ela me acompanhava e juntos, de mãos dadas, caminhávamos silenciosos. Meus olhos marejados insistiam em denunciar minha tristeza e eu procurava disfarçar, constrangido com a situação.
E então olhávamos para o corte do lado de Resende, até que a Canadense apontava com seu “papo amarelo” e sua buzina grave, freando na estação, com aquele característico cheiro de óleo diesel misturado com ferro aquecido.
Entrar naquele trem e deixá-la na estação era um momento de extrema tristeza, e quando o trem partia deixando para trás minha querida Itatiaia, grossas lágrimas banhavam meu rosto.
Mas tinha um consolo; nas próximas férias estaria de volta e me encontraria novamente com Sílvia, com seus olhos cor de mel, seus lábios provocantes, suas mãos macias, sua voz meiga e seu jeito tímido, a preencher minha mente de doces fantasias.
terça-feira, 23 de junho de 2015
O TREM DE AÇO
O Trem de Aço ( D.P. ), se alinha na plataforma para receber os passageiros que lotam a estação com suas bolsas, malas, pacotes e crianças, muitas crianças.
Entre eles está um garotinho que aparenta oito anos de idade. Este observa excitado a movimentação de todos aqueles alegres passageiros, embarcando no luzidio trem prateado com seus confortáveis assentos azuis.
Seu coração bate acelerado (quase a sair pela boca !). Sua ansiedade é grande Quer embarcar logo e sua maior expectativa está em sentir o “ cheiro do trem “ e ver de perto, mais uma vez, o quadro fixado na cabeceira daquele luxuoso carro de passageiros da Central do Brasil. Ali encontra-se gravado em alto relevo, dois grandes peixes de olhos brilhantes e barbatanas avantajadas.
E o garoto pisa afoito nos degraus retráteis, cujos desenhos também lhe chamam a atenção, sobe puxando o pai pelas mãos, apressado e ansioso, pois o grande momento, esperado há mais de um ano, se aproxima.
Quando o chefe do trem abre a porta, o garotinho emocionado não consegue conter suas lágrimas e leva a mão nos olhos tentando disfarçar. Respira fundo, na tentativa de inspirar a maior quantidade possível daquele “ cheiro de trem de aço “. Quer encher os pulmões e se extasiar com aquele perfume, naquele momento tão almejado, pois isso acontecia somente uma vez por ano, quando o pai, ferroviário, obtinha um passe livre para viajar naquele trem.
E fica , mais uma vez, extasiado com tudo o que vê.
O interior do carro é um primor em limpeza e organização.
As poltronas, de um deslumbrante tom azul, são as mais confortáveis que já sentou em toda sua vida.
E o cheiro ?
Ah !, o inebriante e inconfundível perfume do Trem de Aço jamais lhe sairia da mente pelo resto de sua vida, de tão agradável e misterioso que era.
O pai agora já lhe soltara as mãos e ele caminha sozinho até o primeiro assento. Agora, finalmente, ele estava ali, pertinho dos seus adorados peixes, que parecem observá-lo, com seus olhos brilhantes.
E quando olha novamente para aqueles misteriosos e apaixonantes peixes prateados, após um ano todo de expectativa, não mais consegue dissimular sua emoção e desaba num choro convulsivo, procurando o colo da mãe em busca de alento.
A mãe, sem entender o que se passara, procura silenciá-lo, pois os passageiros já começam a observar, curiosos, aquele cena.
Oferece-lhe o assento próximo a janela, mostra a plataforma cheia de gente, disfarça fechando um dos botões de sua camisa e pouco depois o garoto silencia, olhando desconfiado para os lados, disfarçando os olhos lacrimejados.
Agora, emoções contidas, começa a contar os minutos que antecedem aquela viagem.
E olha pela janela toda a movimentação na plataforma da estação, que vai cessando, na medida em que todos embarcam.
Agora só vê o chefe de trem com seu impecável uniforme azul, este sinaliza para a estação, que bate um sonoro sino. Logo depois se ouve um apito, a buzina rouca da Biriba..., mais um apito !
Após uma longa buzinada da máquina, já se ouve o ronco do motor da FA-1 ( a locomotiva modelo FA-1, fabricada pela empresa americana ALCO e apelidada no Brasil, de “ Biriba “).
O trem se põe em movimento, devagar, e entre acenos os passageiros se distanciam cada vez mais da estação de Cruzeiro, que vai ficando para trás naquela agradável tarde de outono.
Novas emoções no decorrer da viagem, esperam por aquele garoto alegre e sonhador. O chefe do trem logo aparece com seu picotador de passagens e brinca com ele, logo surgem as guloseimas que são oferecidas pelos vendedores do trem, tudo é festa !
As paisagens agora passam rápidas; campos, rios, gados, pontes, túneis, estações, crianças acenando nas janelas...
E a Biriba com sua buzina rouca pode ser avistada soltando negra fumaça, quando faz curvas para a esquerda, lado onde se senta o menino com sua família.
Os postes da ferrovia passam correndo, os fios ora se abaixam, ora se levantam, quando da passagem dos mesmos e o trem avança, com destino a Itatiaia, estação de destino daquela viagem.
O garoto não perde uma cena sequer e com o rosto colado na vidraça, registra como se fosse uma câmera, todos as cenas e imagens ao longo do percurso, ora sorrindo, ora acenando, ora sério e absorto nos seus pensamentos.
Em dado momento, percebendo que a sua estação de desembarque se aproxima, pede ao pai que o levante, para que possa ver mais de perto os seus peixes de olhos brilhantes. O pai assim o faz e ele acaricia cada detalhe daquela escultura, conversando silenciosamente com seus amigos prateados, “guardiões daquele trem” , na sua maneira de ver.
Quer beijar o peixe maior, de grandes barbatanas, mas o pai o repreende dizendo-lhe que aquilo está sujo (não entende como uma peixe tão brilhante pode estar sujo...).
Aquele viaduto com um grande tubo passando sobre a linha é a indicação que chegaram à estação em Itatiaia, e logo teriam de descer.
Entristecido olha pela última vez cada detalhe à sua volta, conversa em silêncio mais uma vez com os peixes guardiões, respira profundamente tentando guardar o cheiro do trem nos pulmões e eis que o trem para naquela já conhecida e familiar estação.
Começa a caminhar lentamente pelo corredor, em direção às escadas, gosto amargo na boca, um aperto no peito e de novo aquela vontade incontrolável de chorar...
Desce do trem entristecido, mas eis que vê na estação o seu adorado tio Ismael que com um largo sorriso corre em sua direção e o envolve com um apertado abraço. Mal percebe quando o trem se afasta, pois agora sua atenção está voltada para as pescarias, banhos no rio Bonito, guerrinha de mamonas com a molecada e muita agitação durante aquelas duas semanas de férias que passará em Itatiaia na casa dos tios.
Todos os dias, porém, quando se aproxima o horário da passagem do D.P., lá vai ele para a estação tentando respirar aquele misterioso “cheiro de Trem de Aço“ e lançar ao menos um furtivo olhar para seus amigos prateados, guardiães daquele fantástico trem que tanto adora.
Antonio Carlos Arruda
domingo, 14 de junho de 2015
O TELEGRAFISTA
Na pequena estação esquecida no alto da serra, reinava o silêncio e a solidão naquela abafada noite.
O ar parado, sequer as folhas das árvores se mexiam... Uma atmosfera misteriosa rondava o ambiente.
O manobreiro cochilava com a cabeça apoiada sobre a mesa, espantando com as mãos os pernilongos que insistiam em “cantar” nos seus ouvidos.
José Francisco Neto, o telegrafista, incomodado com a monotonia do ambiente, prefere sair e sentar-se sobre a plataforma vazia e escura. Enquanto isso observa as estrelas, na expectativa de que uma suave brisa venha lhe acariciar os cabelos...
De repente, o silêncio é quebrado pelas batidas da palheta do telégrafo e ”de ouvido” pega uma mensagem misteriosa: “... a solidão toma conta de mim...”
Corre para o manipulador e pergunta de onde vem a mensagem, quem está do outro lado?
Em resposta, o mais absoluto silêncio...
Ele retira o surrado relógio de algibeira de dentro do bolso, confere as horas e arrepiado constata: os ponteiros apontam para o infinito, era meia noite.
Calafrios percorrem sua espinha, ele olha para o companheiro que ronca debruçado sobre a mesa já sem se preocupar com os pernilongos, este nada presenciara!
O restante do turno corre tranqüilo e sem novidades, mas o impressionado telegrafista não se esquece da misteriosa mensagem captada naquela noite.
Não comenta nada com os amigos com medo de ser ridicularizado, mas ansioso, já fica pensando na próxima noite.
E ela chega mais rápido do que ele imagina... Repete-se a cena: a estação deserta, o silêncio, a atmosfera abafada, o manobreiro dormitando, debruçado sobre a mesa...
Desta vez ele não vai para a plataforma, fica “grudado” no telégrafo aguardando a “hora grande”.
E no momento exato em que os ponteiros se juntam e o relógio da estação começa a bater as dozes badaladas noturnas, uma nova mensagem começa a se desenhar nos pontos e traços da amarelada fita: “... nesses momentos de sofrida solidão...”
Mais uma vez calafrios violentos tomam conta do corpo do telegrafista que passa as mãos sobre os cabelos ao sentir que estão arrepiados...
Com as mãos trêmulas e os olhos orvalhados de emoção, pergunta mais uma vez se aquilo é brincadeira de algum colega de outra estação, pergunta se algum outro telegrafista captara a mensagem....
De novo tem como resposta, o mais absoluto silêncio...
Corre para o banheiro, lava o rosto, se olha no espelho...
Toma uma caneca de café quente, sai no pátio e observa a passagem de um trem cargueiro, que desaparece na curva, deixando para trás a fumaça cheirosa do carvão mineral e os apitos que ecoam nas encostas da serra.
Nos próximos dias não consegue mais pensar em outra coisa, sente-se obsidiado pela idéia, ansioso por chegar ao fim dessa misteriosa história.
E as mensagens se sucedem nos próximos três dias, completando a enigmática mensagem, que em rimas dizia:
” A tristeza toma conta de mim,
Nesses momentos de sofrida solidão.
Desde que daqui parti,
Sangrando está meu coração.
Por isso me aproximei de ti,
No silêncio desta nossa estação.
E contigo estarei sempre,
Creia, não se trata de sua imaginação.”
E a última mensagem esclarece:
“Quer saber quem sou eu? Veja o Livro de Ocorrências dos Telegrafistas, página 89, ano de 1894”
Surpreso e profundamente impressionado, o telegrafista observa que trata-se de um livro de 90 anos atrás.
Após uma demorada busca nos arquivos empoeirados da estação, finalmente encontra um velho e amarelado livro de capa dura desbotada. Abre o livro na página mencionada e trêmulo de emoção observa entre as anotações referentes às atividades do telegrafista do plantão da noite, disfarçada no cantinho da página, escrito à lápis, uma frase que estivera presente no seu pensamento durante todos aqueles dias:
“... a tristeza toma conta de mim, nesses momentos de sofrida solidão...”
Vira afoito a folha para ver a assinatura do telegrafista e com a vista embaralhada pelas grossas lágrimas que inundam seus olhos, desvenda, enfim todo aquele mistério...
Assina o relatório, o telegrafista José Francisco, seu falecido avô.
Antonio Carlos Arruda
O manobreiro cochilava com a cabeça apoiada sobre a mesa, espantando com as mãos os pernilongos que insistiam em “cantar” nos seus ouvidos.
José Francisco Neto, o telegrafista, incomodado com a monotonia do ambiente, prefere sair e sentar-se sobre a plataforma vazia e escura. Enquanto isso observa as estrelas, na expectativa de que uma suave brisa venha lhe acariciar os cabelos...
De repente, o silêncio é quebrado pelas batidas da palheta do telégrafo e ”de ouvido” pega uma mensagem misteriosa: “... a solidão toma conta de mim...”
Corre para o manipulador e pergunta de onde vem a mensagem, quem está do outro lado?
Em resposta, o mais absoluto silêncio...
Ele retira o surrado relógio de algibeira de dentro do bolso, confere as horas e arrepiado constata: os ponteiros apontam para o infinito, era meia noite.
Calafrios percorrem sua espinha, ele olha para o companheiro que ronca debruçado sobre a mesa já sem se preocupar com os pernilongos, este nada presenciara!
O restante do turno corre tranqüilo e sem novidades, mas o impressionado telegrafista não se esquece da misteriosa mensagem captada naquela noite.
Não comenta nada com os amigos com medo de ser ridicularizado, mas ansioso, já fica pensando na próxima noite.
E ela chega mais rápido do que ele imagina... Repete-se a cena: a estação deserta, o silêncio, a atmosfera abafada, o manobreiro dormitando, debruçado sobre a mesa...
Desta vez ele não vai para a plataforma, fica “grudado” no telégrafo aguardando a “hora grande”.
E no momento exato em que os ponteiros se juntam e o relógio da estação começa a bater as dozes badaladas noturnas, uma nova mensagem começa a se desenhar nos pontos e traços da amarelada fita: “... nesses momentos de sofrida solidão...”
Mais uma vez calafrios violentos tomam conta do corpo do telegrafista que passa as mãos sobre os cabelos ao sentir que estão arrepiados...
Com as mãos trêmulas e os olhos orvalhados de emoção, pergunta mais uma vez se aquilo é brincadeira de algum colega de outra estação, pergunta se algum outro telegrafista captara a mensagem....
De novo tem como resposta, o mais absoluto silêncio...
Corre para o banheiro, lava o rosto, se olha no espelho...
Toma uma caneca de café quente, sai no pátio e observa a passagem de um trem cargueiro, que desaparece na curva, deixando para trás a fumaça cheirosa do carvão mineral e os apitos que ecoam nas encostas da serra.
Nos próximos dias não consegue mais pensar em outra coisa, sente-se obsidiado pela idéia, ansioso por chegar ao fim dessa misteriosa história.
E as mensagens se sucedem nos próximos três dias, completando a enigmática mensagem, que em rimas dizia:
” A tristeza toma conta de mim,
Nesses momentos de sofrida solidão.
Desde que daqui parti,
Sangrando está meu coração.
Por isso me aproximei de ti,
No silêncio desta nossa estação.
E contigo estarei sempre,
Creia, não se trata de sua imaginação.”
E a última mensagem esclarece:
“Quer saber quem sou eu? Veja o Livro de Ocorrências dos Telegrafistas, página 89, ano de 1894”
Surpreso e profundamente impressionado, o telegrafista observa que trata-se de um livro de 90 anos atrás.
Após uma demorada busca nos arquivos empoeirados da estação, finalmente encontra um velho e amarelado livro de capa dura desbotada. Abre o livro na página mencionada e trêmulo de emoção observa entre as anotações referentes às atividades do telegrafista do plantão da noite, disfarçada no cantinho da página, escrito à lápis, uma frase que estivera presente no seu pensamento durante todos aqueles dias:
“... a tristeza toma conta de mim, nesses momentos de sofrida solidão...”
Vira afoito a folha para ver a assinatura do telegrafista e com a vista embaralhada pelas grossas lágrimas que inundam seus olhos, desvenda, enfim todo aquele mistério...
Assina o relatório, o telegrafista José Francisco, seu falecido avô.
Antonio Carlos Arruda
domingo, 7 de junho de 2015
A CAVALARIA
1974. Uma agradável manhã de outono.
A cerração cobre o campo que se estende em frente à nossa casa, cobrindo o goiabal com aquele doce sabor do sereno da manhã.
Abro a janela do quarto e surpreso, vejo que o “Posto de Desinfecção de Veículos” está tomado de intensa movimentação...
Chegam caminhões verde-oliva, do tipo “gaiolas”, carregados de pomposos cavalos e um grande número de soldados se perfilam sobre a plataforma do posto, enquanto os cavalos são encaminhados a uma grande e improvisada baia às margens do córrego.
Correndo, fui chamar meu irmão para também presenciar o fato inusitado e juntos fomos para a cerca que divisava o grande pátio. Fomos ver de perto o “espetáculo”!!
Soldados em forma, marchando ao ritmo de uma caixa e cornetas tocando marchas militares, empunhando fuzis com baionetas caladas... Aquilo era extraordinário !!!
Nossa casa não tinha água encanada, buscávamos água em baldes, numa torneira que ficava justamente onde a tropa se encontrava aquartelada.
Só havia aquela torneira e ali a tropa se servia de água para o acampamento, o que nos obrigava a disputá-la com aqueles garbosos soldados, o que para nós era motivo de grande contentamento.
Ganhávamos barras de deliciosas marmeladas e além disso tínhamos ajuda para carregar os baldes, o que para nós era muito bom !
De noite dormíamos com as janelas abertas, pois havia sentinelas por toda parte e acordávamos ao som do clarim tocando “alvorada”.
Os exercícios militares, com simulação de combates, a cavalhada tomando água nas canaletas represadas que se transformaram em improvisados bebedouros, as marchas militares, as marmeladas, e todo aquele clima mágico, nos encantaram por aproximadamente duas semanas.
Um dia, para nossa tristeza, não ouvimos o toque de alvorada ao amanhecer. Levantamos depressa e decepcionados pudemos constatar que o Grupamento de Cavalaria do Exército não estava mais acampado no posto. Havia partido durante a madrugada...
Era o fim da nossa fantasia.
Tristes, ainda fomos ver de perto os vestígios das barracas recém-desmontadas, as pegadas dos cavalos e para nossa felicidade, encontramos inúmeras cápsulas deflagradas oriundas dos exercícios de tiros de festim. Guardamos estas relíquias como lembrança daqueles dias memoráveis .Vim a saber, mais tarde, o nome do comandante daquele grupamento que ali acampara. Tratava-se do Cel. João Batista de Figueiredo, que depois foi nosso Presidente da República.
Antônio Carlos Arruda
Abro a janela do quarto e surpreso, vejo que o “Posto de Desinfecção de Veículos” está tomado de intensa movimentação...
Chegam caminhões verde-oliva, do tipo “gaiolas”, carregados de pomposos cavalos e um grande número de soldados se perfilam sobre a plataforma do posto, enquanto os cavalos são encaminhados a uma grande e improvisada baia às margens do córrego.
Correndo, fui chamar meu irmão para também presenciar o fato inusitado e juntos fomos para a cerca que divisava o grande pátio. Fomos ver de perto o “espetáculo”!!
Soldados em forma, marchando ao ritmo de uma caixa e cornetas tocando marchas militares, empunhando fuzis com baionetas caladas... Aquilo era extraordinário !!!
Nossa casa não tinha água encanada, buscávamos água em baldes, numa torneira que ficava justamente onde a tropa se encontrava aquartelada.
Só havia aquela torneira e ali a tropa se servia de água para o acampamento, o que nos obrigava a disputá-la com aqueles garbosos soldados, o que para nós era motivo de grande contentamento.
Ganhávamos barras de deliciosas marmeladas e além disso tínhamos ajuda para carregar os baldes, o que para nós era muito bom !
De noite dormíamos com as janelas abertas, pois havia sentinelas por toda parte e acordávamos ao som do clarim tocando “alvorada”.
Os exercícios militares, com simulação de combates, a cavalhada tomando água nas canaletas represadas que se transformaram em improvisados bebedouros, as marchas militares, as marmeladas, e todo aquele clima mágico, nos encantaram por aproximadamente duas semanas.
Um dia, para nossa tristeza, não ouvimos o toque de alvorada ao amanhecer. Levantamos depressa e decepcionados pudemos constatar que o Grupamento de Cavalaria do Exército não estava mais acampado no posto. Havia partido durante a madrugada...
Era o fim da nossa fantasia.
Tristes, ainda fomos ver de perto os vestígios das barracas recém-desmontadas, as pegadas dos cavalos e para nossa felicidade, encontramos inúmeras cápsulas deflagradas oriundas dos exercícios de tiros de festim. Guardamos estas relíquias como lembrança daqueles dias memoráveis .Vim a saber, mais tarde, o nome do comandante daquele grupamento que ali acampara. Tratava-se do Cel. João Batista de Figueiredo, que depois foi nosso Presidente da República.
Antônio Carlos Arruda
domingo, 31 de maio de 2015
SAUDADES DE CRUZEIRO
Rotulam-me de nostálgico, porém, como me esquecer daqueles tempos áureos em que a juventude se manifestava com toda sua vitalidade, embalando-me em sonhos e fantasias?
Quantas vezes, sentado às margens da linha, nas minhas divagações, não me vi envergando o garboso uniforme verde-oliva com pelo menos três divisas (sonhava em ser Sargento do Exército).
Este desejo se intensificava quando a locomotiva conhecida como “Canadense” apontava no horizonte com sua buzina rouca e grave e o farol aceso, arrastando especiais militares (muito comuns na época) com carros de combate sobre as pranchas, e no final do comboio, uma classe repleta de soldados.
Debruçado sobre a janela do quarto, nas lindas e enluaradas noites cruzeirenses, observava ao longe a classe de passageiros no final do cargueiro desviado na “linha-2”.
Era o trem misto da EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil). Mais conhecido como “Trem Leiteiro” a composição aguardava intervalo para seguir sua longa e demorada viagem rumo à capital paulista.
A luz fraca e amarelada no interior da classe de madeira (que se tornava cada vez mais avermelhada na medida em que os “acumuladores de energia” perdiam sua carga) transportava-me para um universo mágico de imaginações e fantasias de indescritível êxtase.
Morávamos numa das casinhas da “25ª Turma”.
Eram três casas coladas ao alambrado da FNV, muito próximo à Fundição de Aço.
A primeira casa era a nossa, depois vinha a do Sr. Benedito Vieira, depois a do Sr. Nelson Coelho.
Ali ao lado, existia um “embarcadouro”.
Neste local acontecia o baldeio do gado da bitola estreita para a larga. O momento em que o gado saía dos vagões, percorrendo os corredores de trilhos para entrar no outro trem, era um grande atrativo para a molecada. Vibrávamos com aquele grande acontecimento.
Depois de vazios os vagões eram direcionados para o Posto de Desinfecção de Veículos e após lavados, recebiam um banho de cal virgem, com seu gostoso cheiro, branqueando toda a vegetação ao lado da linha do “virador” da Rede Mineira de Viação.
Como esquecer do Sr. Mário Lamas, do Sr. João de Barros, do Sr. Justino, do Osvaldo, do Merlin (todos funcionários do Ministério da Agricultura, que trabalhavam no Posto de Desinfecção).
Aquele foi também o palco das inesquecíveis aventuras com nossos inseparáveis amigos João Carlos e Serginho Lamas, companheiros de aventura no pátio do posto, no goiabal, nas nossas partidas noturnas de futebol.
Ao me envolver nestas recordações, chego a me perguntar por que o tempo implacável nos impõe tantas mudanças e me permito questionar sobre a real vantagem de alterações tão radicais no curso da história e da nossa vida.
Apaixonado por ferrovia, tenho muita saudade dos tempos em que esta brilhava como um meio de transporte eficaz e seguro, com suas ramificações se estendendo por todo o território nacional.
Lembro-me da linda e majestosa estação de Cruzeiro repleta de passageiros que ora chegavam, ora partiam. O entroncamento ferroviário Rio-São Paulo-Minas fazia com que fosse grande o movimento e ali era um dos principais pontos de encontro da juventude cruzeirense.
Quando romances não nasceram naquela plataforma?
Quantas chegadas e partidas?
Quantas lágrimas e sorrisos?
Quantos sonhos de amor não se desfizeram naquela plataforma, embalados pelos silvos estridentes de uma locomotiva a vapor que partia, atravessando a cidade rumo às escarpas da Serra da Mantiqueira?
De um lado a Canadense com a “batida” toda característica de seu motor ALCO, com aquela luzinha amarelada da cabina, esperando a liberação para arrancar com o Expressinho pela madrugada adentro, rumo ao Rio de Janeiro.
Do outro lado da estação, a G-12 de bitola métrica aguardava silenciosamente o momento de partir para Minas, com seu ronco ensurdecedor que fazia tremer as paredes das casas às margens da linha...
Vendedores de salgados ofereciam uma variedade de opções e disputavam espaço com suas bandejas e cestinhas de taquara junto às janelas dos lotados carros de passageiros.
No meio deles, estava eu, um jovem e sonhador vendedor de pastéis, kibes e balangandans (risoles).
Saudades de um tempo que não mais voltará.
Saudades de uma época em que as dificuldades financeiras eram grandes e a luta pela sobrevivência exigia muitos sacrifícios de toda nossa família, porém isso não conseguia afetar o nosso gosto pela vida e a nossa alegria de viver. Éramos muito felizes!
Saudades de uma vida mais tranquila, mais amena, sem ansiedades...
Saudades de um tempo em que as coisas aconteciam com mais vagar, as pessoas respiravam mais pausadamente e andavam ao invés de correr.
Tempos em que os jovens frequentavam as pracinhas da cidade nos finais de semana, para o tão tradicional “footing”.
Chamam-me saudosista, mas como não ser?
Se vivi intensamente esses momentos, faço questão de mantê-los acesos na minha mente, se bem que às vezes entristeço-me com a realidade do hoje.
Nostálgico, talvez seja, mas a cada vez que fecho meus olhos ouço a buzina das locomotivas que fizeram parte da minha infância e adolescência (a Canadense, a Biriba, a G-12) e isso eu não consigo evitar.
Se me concentro um pouco, ouço os apitos melodiosos das Maria-Fumaças, quando viravam o trem de passageiros em frente à minha casa.
E me surpreendo sentindo os cheiros que sentia: cheiro de orvalho no capim-gordura, cheiro de ferro aquecido das caldeiras das máquinas a vapor...
Jamais me esquecerei do cheiro todo característico do interior das classes do Trem de Aço (o DP)
E de recordação em recordação viajo no tempo, retornando àquelas situações ainda muito vivas na minha memória.
E elas estarão eternamente vivas, permanecerão presentes no meu ser por toda a eternidade.
Isso porque os momentos especiais da nossa existência são registrados na essência imortal do nosso ser. O corpo um dia deixará de existir, porém as sublimes recordações serão eternizadas para deleite do nosso espírito.
E a minha querida Cruzeiro estará sempre comigo nesta ou em qualquer outra dimensão onde eu possa estar.
Antonio Carlos Arruda
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