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domingo, 19 de julho de 2015

A NAMORADINHA DE ITATIAIA




“ Bem que eu me lembro, a gente sentava ali ...”
Que o poeta me desculpe o plágio, mas era bem assim...
À tardinha, quando o sol já se punha, sentávamos à sombra daquela amoreira, bem no portão de sua casa, num tosco banco de madeira.
Sua tez morena e seus olhos cor de mel me despertavam uma louca paixão. Os lábios carnudos e a grossa sobrancelha lhe conferiam um semblante agressivo, que contrastava com seu jeito meigo e tímido.
Ela não sabia de minha paixão ( ou se sabia fingia ignorar ), e me olhava no fundo dos olhos, mordendo os lábios, com trejeitos provocadores.
Gostávamos de passear na linha, sobre os trilhos, um de cada lado, apostando quem conseguia ir mais longe sem cair. Depois sentávamos na plataforma da estação de Itatiaia, olhando o corte em direção a Resende, tentando adivinhar qual seria a próxima locomotiva a apontar; seria uma Biriba ( ALCO FA-1 ), ou uma Canadense ( ALCO RS-3 ), ou mesmo uma CLT ( GM EMD SD-18 ) ???
Eu sempre ganhava a aposta, pois ao contrário dela, conhecia o ronco dos motores de cada uma das locomotivas, quando estas ainda estavam longe, o que a deixava muito impressionada.
Às vezes, nervosamente, segurava suas mãos ( sempre com alguma desculpa ), e meu corpo tremia todo quando aqueles dedos macios se entrelaçavam com os meus.
Ou quando íamos ver os pequenos peixes no córrego sob o leito da ferrovia, uma descida íngreme era sempre o motivo para que eu a segurasse pela cintura, na desculpa de não deixá-la cair.
Pensava nela dia e noite, sonhava com ela até acordado, e meu ciúme era doentio, principalmente quando nadávamos nas águas cristalinas do Rio Bonito. Vê-la com a roupa colada ao corpo, os cabelos molhados e seu olhar penetrante a me fitar, era um verdadeiro castigo.
E quando voltávamos para casa, ela correndo na frente e eu tentando alcançá-la por entre as trilhas perfumadas daquele verde campo colorido de vermelho do capim gordura florido.
Eu a alcançava e propositadamente a abraçava apertando seu corpo molhado contra o meu, enquanto meu coração palpitava, ébrio de paixão ...
Mas as férias chegavam ao fim....
A tristeza do dia da partida fazia com que eu acordasse triste, desanimado, com vontade de chorar.
O Expresso passava na hora do almoço, porém, logo cedo eu já estava de pé, e corria até sua casa, pois queria vê-la, queria estar com ela naqueles poucos momentos que me restavam.
E eis que lá estava ela: cabelos soltos, saia colorida, sorriso nos lábios, e me chamava para sentar no nosso banco.
Conversávamos até chegar o horário de ir para a estação.
Ela me acompanhava e juntos, de mãos dadas, caminhávamos silenciosos. Meus olhos marejados insistiam em denunciar minha tristeza e eu procurava disfarçar, constrangido com a situação.
E então olhávamos para o corte do lado de Resende, até que a Canadense apontava com seu “papo amarelo” e sua buzina grave, freando na estação, com aquele característico cheiro de óleo diesel misturado com ferro aquecido.
Entrar naquele trem e deixá-la na estação era um momento de extrema tristeza, e quando o trem partia deixando para trás minha querida Itatiaia, grossas lágrimas banhavam meu rosto.
Mas tinha um consolo; nas próximas férias estaria de volta e me encontraria novamente com Sílvia, com seus olhos cor de mel, seus lábios provocantes, suas mãos macias, sua voz meiga e seu jeito tímido, a preencher minha mente de doces fantasias.

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