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domingo, 30 de agosto de 2015

O GUARDA-FREIOS

                                
O pioneirismo da ferrovia registra passagens onde desfilam e personagens anônimos, alguns destes, verdadeiros heróis.
Pessoas humildes, que não obstante sua simplicidade, deixaram exemplos sublimes de amor e dedicação às suas lides profissionais, transformando-as em verdadeiro sacerdócio.
O grau de envolvimento, chegava a ser tão forte que muitas das vezes extrapolava seu aspecto puramente profissional e o ferroviário defendia a instituição com ardor, orgulhando-se dela o e dedicando-se de corpo e alma a sua profissão, que era a razão maior de sua existência.
Não raro, o rude trabalho o expunha a riscos iminentes e exaustivos sacrifícios, mas isso não lhe causava desalento. Quando o pesado comboio passava com a batida cadenciada das rodas nas emendas dos trilhos e o som todo característico do vapor sendo expulso pelas escuras chaminés, o dedicado ferroviário sorria envaidecido, sentindo um calafrio a percorrer seu corpo. Ele fazia parte daquele espetáculo, e se sentia orgulhoso disso !
Dentre a extensa lista de funções existentes na ferrovia, é consenso que a mais perigosa dela era a de Guarda-Freios.
A locomotiva a vapor, antes da extraodinária invenção de George Westinghouse - que dotou as composições ferroviárias do sistema de frenagem pneumático até hoje utilizados - funcionava com um limitado sistema de freio a vácuo, que deixava muito a desejar, sobretudo em regiões de declive acentuado.
Objetivando reforçar a frenagem do trem na descida da serra, o Guarda-Freios subia no teto dos vagões e utilizando um volante ali existente, freaando manualmente cada um deles.
Com o trem em movimento, o Guarda-Freios era obrigado a saltar de um vagão para o outro para apertar os volantes, tarefa que envolvia um altíssimo risco, e exigia uma habilidade sem precedentes deste corajoso ferroviário.
Além do risco de desequilibrar-se com o balanço do trem, ou de escorregar no teto molhado pela chuva, ou mesmo de tropeçar nos antiquados passadiços de madeira existentes, existia uma ameaça maior, os túneis.
Devido a reduzida altura das locomotivas a vapor, os túneis eram também muito baixos. O Guarda-Freios, concentrado na sua tarefa, muitas das vezes descuidava-se deles e era colhido de surpresa.
Acidentes aconteciam com frequência e quando não causavam a morte, sempre ocasionavam sérios ferimentos e sequelas às suas vítimas.
O maquinista comunicava-se com o Guarda-Freios utilizando-se do apito. Assim, através de um código pré-estabelecido, os freios eram apertados ou afrouxados ao longo do trecho em que era necessária a utilização do freio manual. Ao longo da viagem o Guarda-Freios tinha de subir e descer dos vagões, apertando e desapertando os volantes manuais quantas vezes fossem necessárias.
E neste trabalho árduo, exaustivo e extremamente perigoso, colocavam sua própria vida em risco para garantir que o trem chegasse a seu destino com segurança.
Heróis anônimos da nossa história ferroviária, avançavam por onde quer que houvessem trilhos, enfrentando ora o frio, a umidade e os ventos gelados da serra, ora o calor extenuante que encharcava a camisa e tornava o ar pesado, quase irrespirável.
A estes valorosos profissionais, que com sua garra e coragem, muitas das vezes tombaram no cumprimento do dever, registramos nossa singela homenagem.
As estradas de ferro de todo o mundo devem a esses heróis anônimos, o tributo de serem o são hoje.

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